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  • sexta-feira, 31 de março de 2017

    Espiritismo e medicina - Caminhos para terapêutica dos distúrbios mentais (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen

    As mulheres em quase toda a Inglaterra são agredidas ou às vezes ficam em situações muito desumanas, como no caso das mulheres grávidas que perdem seus bebês (aborto)  diante das violências praticadas pelos seus esposos (muitos deles obsidiados) diagnosticados como estressados pós-traumático. Uma delas , a britânica Lindsey Roberts, diz ter sofrido cinco abortos após ser agredida por seu marido, o militar Andrew Roberts, que era um obsedado  e repleto  de paranóias de guerra , além de distúrbios de ansiedade  contraídos nos campos de batalha (Iraque, Afeganistão). (1)
    A obsessão é a trágica pandemia dos dias atuais. A perturbação espiritual  dos soldados oriundos dos campos de batalha não é um problema inglês, pois nos EUA, na França, na Itália é comum existirem homens (ex-soldados) obsidiados, portadores de demência e distúrbios de ansiedade, contraídos nos campos de guerra, lembrando aqui que tais países fomentam,  convivem e mantêm a guerra no planeta.

    O fato é que a ciência desses países e do mundo não alcança elucidar suficientemente as razoáveis causas dos distúrbios espirituais , psicológicos e mentais de ex-combatentes. O psiquiatra se mantém aprisionado aos limites do cérebro, fonte que, como nós espíritas sabemos, não é a raiz essencial das patologias, sejam espirituais e/ou mentais, mas tão somente a exteriorização do efeito da enfermidade.

    A ideia da existência de um “ente” extra físico (Espírito) pode elucidar a origem de muitos enigmas patológicos da psiquê. Em todas as épocas da história das civilizações, existiram psicopatas que sofriam influências nefastas desses “entes” extra físicos (obsessores e inimigos de guerra), e, em alguns casos, envolvendo personagens que se celebrizaram por seus atos.
    Nabucodonosor II, rei dos Caldeus, sofreu uma licantropia e pastava no jardim do palácio, como um animal. Tibério, envolvido por muitos espíritos cobradores, cometeu muitos deslizes, com muita malignidade. Calígula e Gengis-Khan marcaram presença, em função de suas aberrações psicóticas. Domício Nero, em função de grandes desequilíbrios psíquicos, entre tantos equívocos, mandou assassinar a mãe e sua esposa, e, depois, as reencontrava em desdobramentos.

    Até mesmo no campo das artes encontramos obsedados por “entes” extra físicos. Dostoiévski sofria de ataques “epilépticos”. Nietzsche perambulou pelos asilos de “alienados”. Van Gogh cortou as orelhas num momento de “insanidade” e as enviou de presente para sua musa inspiradora, findando, posteriormente, a vida, com um tiro. Schumann, notável compositor, atirou-se ao Reno, sendo salvo pelos amigos e internado num hospício, onde ele encerrou a carreira. Edgar Allan Poe sucumbiu arrasado pelo álcool e tendo visões infernais.

    Naturalmente há tratamento para tais problemas. A terapêutica para as tragédias psicopatológicas (obsessivas ou não) é essencialmente preventiva. O Espiritismo sugere a resignação ante às vicissitudes da vida que poderiam causar o acirramento ou a atenuação da doença. Para que haja mais sucesso no tratamento do processo obsessivo, o primeiro passo é que se faça um bom diagnóstico do conjunto dos sintomas.

    Apesar de todos os esforços, às vezes, é difícil fazer um diagnóstico diferencial específico, considerando que os sinais e sintomas são idênticos, tanto na loucura, propriamente dita, com lesões cerebrais, quanto nos processos obsessivos, onde há grande perturbação na transmissão do pensamento.

    Para tratamentos das obsessões é fundamental que se considere a existência do psicossoma, contextura sutil que envolve o corpo físico. “É por seu intermédio que o Espírito encarnado se acha em relação contínua com os desencarnados. O perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, por meio do qual este percebe coisas espirituais que escapam aos sentidos corpóreos.” (2)

    O êxito do tratamento ou até mesmo “a cura se opera mediante a substituição de uma molécula [perispiritual] malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada; mas depende, também, da energia, da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido.” (3)

    Urge, mais uma vez, deixar bem claro que o tratamento espiritual, oferecido na Casa Espírita, não dispensa tratamento médico. O prognóstico, de modo geral, poderá ser bom ou ruim, considerando todos os fatores envolvidos, especialmente, o interesse do obsidiado em profundas transformações íntimas e a boa vontade da família em dar-lhe toda a assistência possível sob todos os aspectos.

    “A Doutrina Espírita, aliada às Ciências Médicas, poderá se entender não se contradizendo, mas de mãos dadas, caminhando juntas, buscando todos os recursos disponíveis no sentido de abrandar o sofrimento do doente[obsedado]” (4). Caso contrário, “a ciência nadará em um oceano de incertezas, enquanto acreditar que a loucura depende, exclusivamente, do cérebro. A ciência precisa distinguir as causas físicas das causas morais, para poder aplicar às moléstias os meios correlativos”.(5)

    Referencias bibliográficas:
    [1]       Disponível em http://www.bbc.com/portuguese/geral-39191695    acesso em 30/03/2017
    [2]       KARDEC, Allan. A Gênese, RJ: Ed. Feb, 29ª edição, 1986, cap. XIV
    [3]       KARDEC, Allan. A Gênese, RJ: Ed. Feb, 29ª edição, 1986, cap. XIV
    [4]       KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, 117ª edição, 1990, Instituto de Difusão Espírita - IDE, 117ª ed., cap. I, item 8

    [5]       MENEZES Adolfo Bezerra de. A Loucura sob um Novo Prisma, 2ª edição, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1987

    sexta-feira, 10 de março de 2017

    Entrevista com o escritor espírita Jorge Hessen



    Jorge Hessen em visita 
    ao Museu Chico Xavier em Uberaba




    O Codificador do Paráclito
    Blog   http://pointier.blogspot.com.br/

    Jorge Hessen, nascido no Rio de Janeiro a 18/08/1951, aposentado do INMETRO, residente em Brasília desde 1972. Formado em Estudos Sociais com ênfase em Geografia, Bacharel e Licenciado em História pela Universidade de Brasília- Unb.
    Membro fundador do Posto de Assistência Espírita (DF), jornalista, historiador e escritor. Autor dos livros “Luz na Mente”, “Praeiro, um Peregrino nas Terras do Pantanal”, “Anuário Histórico Espírita 2002”( coletânea de diversos autores e trabalhos históricos de todo o Brasil, coordenado pelo Centro de Documentação Histórica da União das Sociedades Espíritas de São Paulo – USE ). Autor de 22 (vinte e dois) livros eletrônicos (E Books), todos traduzidos em Madri (espanhol), 2 (dois) traduzidos em Paris (francês) e 1 (um) traduzido para o inglês  (publicados pelo portal Autores Espíritas Clássicos), conforme o link: http://www.autoresespiritasclassicos.com/Apostilas/Artigos%20Espiritas%20-%20Jorge%20Hessen/Artigos%20Espiritas%20-%20Jorge%20Hessen.htm


    O Codificador do Paráclito:  Por que se tornou Espírita?

    Jorge Hessen: Entrei no orbe espírita estimulado por incontida investigação da Verdade cristã. Como não encontrava respostas noutras doutrinas cristãs busquei o Espiritismo e ele a tudo me respondeu.

    O Codificador do Paráclito:  O que lhe mais lhe impressionou na Doutrina Espírita?

    Jorge Hessen: Desde a primeira hora, fiquei maravilhado com a cautela, o bom senso, a habilidade de síntese e o acervo cultural de Allan Kardec. Procurei conhecer a biografia do professor Rivail. Percebi que estava diante de um gênio. Seu labor se consubstanciou na Terceira Revelação e obviamente isso foi fundamental para inspirar a minha paixão pelo Espiritismo.

    O Codificador do Paráclito:  O que sobressai na mensagem espírita?

    Jorge Hessen: O Espiritismo é o Consolador Prometido que desvenda conceitos surpreendentes sobre Deus, o Universo, os homens, a natureza e comunicação dos “mortos” com os “vivos”, a pluralidade dos mundos habitados, a reencarnação e as leis naturais que regem a vida. A Terceira Revelação acena-nos ainda com o soberano apelo para compreendermos e refletir sobre o que somos, de onde viemos, para onde vamos, qual o objetivo da nossa existência e qual a razão da dor e do sofrimento.

    O Codificador do Paráclito:  Quais foram os momentos que marcaram sua experiência doutrinária?

    Jorge Hessen:  Nesse absorvente rumo muitas vezes esbarro com as lágrimas, reflexas e resultantes da ignorância e truculência do homem hodierno; doutros momentos deparo em mim mesmo o ânimo do regozijo em razão dos grandes exemplos de amor, humildade e abnegação que identificamos  aqui e além no coração do próximo.

    O Codificador do Paráclito:    O que é a Terceira Revelação para você?

    Jorge Hessen:  É Ciência porque se consubstancia num conjunto reunido de informações concernentes a certas classes de eventos ou fenômenos transcendes avaliados experimentalmente, relacionados e descritos por Kardec e outros pesquisadores de renome, representado principalmente pelas obras básicas. É Filosofia sem tanger necessariamente o contexto filosófico tradicional (materialista), embora de cunho evolucionista e metafísico, pontua a necessidade de o homem ir em busca de seu autoburilamento, estimulando-o à averiguação de respostas às questões magnas da Humanidade: sua natureza, sua origem e destinação, seu papel perante a Vida e o Universo tendo como bandeira o axioma: “nascer, viver, morrer e renascer de novo, progredindo sempre, tal é a lei. ”É, por fim e sobretudo  Religião, porque propõe unir os povos em um ideal de fraternidade, preconizado pelo Evangelho de Jesus, permitido, dessa forma, que o homem se encontre com o próprio Criador, tendo como bandeira o lema:  “fora da caridade não há salvação.”

    O Codificador do Paráclito:  O Espiritismo precisa ser atualizado sob o ponto de vista científico? 

    Jorge Hessen: Fundamentalmente é importante ressaltarmos que o Espiritismo não tem incondicional necessidade da ciência terrena, pois como nos adverte Emmanuel na primeira questão da obra O Consolador: “Essa necessidade de modo algum pode ser absoluta. O concurso científico é sempre útil, quando oriundo da consciência esclarecida e da sinceridade do coração. Importa considerar, todavia, que a ciência do mundo se não deseja continuar no papel de comparsa da tirania e da destruição, tem absoluta necessidade do Espiritismo, cuja finalidade divina é a iluminação dos sentimentos, na sagrada melhoria das características morais do homem.”  Eis aí o meu pensamento.

    O Codificador do Paráclito:  Qual é a sua mensagem àqueles que incorrem ao fanatismo religioso espírita?

    Jorge Hessen: O espírita sincero precisa compenetrar-se da oportunidade, no tempo e no ambiente, com relação aos assuntos doutrinários no seu tríplice aspecto, porquanto, qualquer inconsideração nesse particular, pode conduzir a fanatismo abominável, sem nenhum caráter construtivo.
    Herculano Pires já advertia sobre o igrejismo que assolava as hostes espíritas. Entendo que a FEB é roustanguista , por impor nos seus Estatutos o Parágrafo único , item III , Art. 1º  que “além das obras básicas a que se refere o inciso I, o estudo e a difusão compreenderão, também, a obra de J.-B. Roustaing e outras subsidiárias e complementares da Doutrina Espírita.” Desta forma,  o louvor das obras de Roustaing na FEB tem pervertido a racionalidade espírita no Brasil. Desconheço espíritas  mais maníacos do que os roustanguistas.
    Pelo exposto, entendo que no Brasil seja imprescindível a criação URGENTE de uma Confederação Espírita (longe de Roustaing), a fim de unir concreta e racionalmente os corações dos espíritas em torno do eminente Kardec, considerando sempre o Espiritismo em seu tríplice aspecto. Para esse desígnio compete aos atuais jovens espíritas e as lideranças contemporâneas se movimentarem a fim de concretizarem tal projeto.

    O Codificador do Paráclito:  Deveria ser acelerada a propagação do Espiritismo pelo mundo ?,

    Jorge Hessen: Não deve ser apressada a expansão e a propaganda espírita. Não há necessidade imediata. A organização do Espiritismo está nas mãos de Jesus, antes de qualquer esforço incerto e volúvel de nossa parte. É imprescindível estudarmos e aplicarmos os ensinamentos do Mestre à luz do Espiritismo, pois nossa tarefa maior deve ser da própria iluminação através de uma fé racional , inabalável e serena. Ademais, devemos oferecer aos serviços da propaganda doutrinária a cota de tempo de que possamos dispor, entre os trabalhos diário do ganha pão e o cumprimento dos deveres familiares. Para Emmanuel,  a execução dessas obrigações é sagrada e urge não cair no declive das situações parasitárias, ou do fanatismo religioso.
    No trabalho da propaganda da verdade, Jesus caminha antes de qualquer esforço humano e ninguém deve guardar a pretensão de converter alguém, quando nas tarefas do mundo há sempre oportunidade para o preciso conhecimento de si mesmo.

    O Codificador do Paráclito: Suas considerações finais?

    Jorge Hessen: Espíritas!  Em favor da unidade entre nós,  repudiemos os conceitos equivocados que nos dividem, a exemplo do misticismo roustanguista febiano   e esquadrinhando em Allan Kardec a segura orientação doutrinária para melhor compreendermos Jesus.

    quarta-feira, 1 de março de 2017

    O “amor a si” , o “auto perdão” e o “próximo” como alvo (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com 

    Estabeleceu Jesus a síntese da Lei: “amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos”. [1] O resumo da Norma indicada pelo Mestre é das mais admiráveis terapias pessoais. Somos todos importantes. Somos criaturas únicas no Universo que buscamos a felicidade através do aprendizado do amar a nós mesmos, ao próximo e a Deus.

    Contudo, de que forma amar a nós mesmos? Naturalmente a proposta de Jesus é um imperativo que não deve ser confundido com o egoísmo ou o egocentrismo. Quando escolhemos aprender, para o aprimoramento intelectual, estamos nos auto amando. Quando compreendemos as nossas imperfeições temporárias, nos esforçando para corrigir os erros, estamos amando a nós mesmos. “O auto amor proporciona uma visão mais clara de quem se é, do que se deseja e do que não se deseja para si”. [2]

    Quando escolhemos perdoar e extinguir o peso de uma mágoa, estamos amando a nós mesmos. O asseio mental e a estabilização emocional têm procedências brilhantes naquele que consegue praticar e receber o perdão. Todos somos convocados a praticar o perdão no ambiente doméstico, profissional, religioso; enfim na convivência social.

    Afinal de contas, perdoar significa absolver, indultar, desculpar, anistiar. O prefixo “per” quer dizer “total” e “doar” significa dar inteiramente, ou seja, um empenho de autodoação plena. Portanto, perdoar-nos resulta no pleno amor a nós mesmos.

    Para nos libertarmos, tanto da culpa quanto da desculpa, necessitamos cultivar o auto amor, a autoconsciência, o arrependimento e o aprendizado para as reparações imprescindíveis. É verdade! O auto perdão não é uma simples revogação da consciência de culpa, mas um procedimento de auto-exame consciencioso de nós mesmos, o que requer arrependimento e reparação.

    Somente cultivando o auto amor é que crescemos espiritualmente. Por isso não podemos ficar sob o guante do ingênuo pesar. Quem ama a si mesmo (como recomendou Jesus) preenche a vida de alegria e paz. Todavia, uma das causas de auto-agressão vem da procura frenética de perfeição irrestrita, como se todos devêssemos ser deuses ou deusas de um momento para o outro.

    Quando esperamos perfeição em tudo e confrontamos o lado "primário" de nossa natureza humana, nos sentiremos fatalmente diminuídos e envolvidos por uma aura de fracasso. A baixa autoestima nasce quando não nos aceitamos como somos. Somente a auto aceitação nos leva a sentir plena segurança ante os fatos e ocorrências do cotidiano.

    Nossas reações perante a vida não acontecem em função tão somente dos episódios exteriores, mas sobretudo de como percebemos e julgamos interiormente esses mesmos acontecimentos. A forma de refletirmos e nos comportarmos em face das nossas reações perante os outros, avaliando-os como bons ou maus, é talhada por um mecanismo de autocensura que se encontra alojado em nossos níveis de consciência mais profundos. Este juiz íntimo foi cultivado sobre bases de valores e de princípios que empilhamos através dos tempos recuados sob reencarnações inumeráveis.

    Todos nos equivocamos tendo o dever de perdoar-nos, porém não permaneçamos no erro. É imprescindível, buscarmos não reincidir no mesmo endividamento moral, libertando-nos das algemas constringentes do remorso, até mesmo porque “o remorso é um lampejo de Deus sobre o complexo de culpa que se expressa por enfermidade da consciência”.[3] Podemos experimentar culpa e condenação, perdão e liberdade, de acordo com os nossos valores, crenças, princípios e normas vigentes. Apreendemos assim que para alcançar o auto perdão é imperioso que reexaminemos nossas convicções profundas sobre a natureza do nosso próprio EU.

    Todos cometemos desacertos de maior ou menor agravamento, alguns dos quais, como vimos, são arquivados nos porões do inconsciente. Cedo ou tarde ressurgem devastadores, causando mal-estar, ansiedade, insatisfação pessoal, em caminho de transtorno de conduta.

    A terapia moral pelo auto perdão impõe-se como indispensável para a recuperação do equilíbrio emocional e o respeito por nós mesmos. Seja qual for a gravidade do ato infeliz, é possível repará-lo quando se está disposto a fazê-lo, recobrando o otimismo, a alegria de viver, amando a Deus e ao próximo, perdoando-nos e amando-nos verdadeiramente.

    Referências bibliográficas:

    [1] Mt. 22:34
    [2] FRANCO, Divaldo Pereira. Amor, imbatível amor, ditado pelo espírito de Joanna de Ângelis, Bahia: ed. Leal, 2005, cap. 13
    [3] XAVIER, Francisco Cândido. Pronto Socorro, ditado pelo espirito Emmanuel SP: Ed CEU 1980