Jorge Hessen
O câncer da culpa está conectado
à rigidez comportamental. A pessoa rígida, inflexível e “cabeça dura”, devido
ao comportamento de prepotência que estrutura seu padrão mental, cria muita
dificuldade para lidar com os desacertos e fracassos seus e dos outros.
Sendo a culpa um complexo
de fixação mental, e funciona em circuito fechado, ou seja, o culpado mergulha-se
ensimesmado e permanece girando ao torno da culpa cristalizada, exatamente por
não se perdoar diante dos seus limites e fracassos. O culpado, por não confiar
em si mesmo, achando-se impotente e incapaz realimenta energias mentais deletérias
provocando a formação diversas patologias, em face da toxidade energética conservada.
A culpa está vinculada ao
rigorismo comportamental e ao padrão de prepotência, ou desejo de onipotência, que encontraremos nas pessoas controladoras, e
obviamente tal característica da
personalidade rígida reverbera no corpo físico, provocando as chamadas “doenças da rigidez”.
Os perfeccionistas tendem a dar uma importância superlativa a
tudo que fazem, e se autoexigem, em face do orgulho manifesto. Os superexigentes
são geralmente detalhistas e jamais estão satisfeitos com os resultados que
obtêm.
As patologias mais
comuns da rigidez e do perfeccionismo estão ligadas às alterações ósseas e musculares,
causando incômodos como dor intensa e limitações aos movimentos,
prejudicando a qualidade de vida dos mesmos. A mais comum é a fibromialgia ou
síndrome de amplificação dolorosa, que é uma doença musculoesquelética difusa, caracterizada
por dores no corpo, fadiga e alterações no sono.
Notamos claramente a
rigidez, a inflexibilidade e o egocentrismo das pessoas que exibem o olhar para
si mesmas, supervalorizando a sombra do “ego”, e que ante os fracassos inadmissíveis
desmoronam-se na culpa por lhes faltar a mansidão e a humildade do
arrependimento sincero.
Como a rigidez e a
culpa se correlacionam e seguem um regime de retroalimentação tóxica, poderemos
compreender que diversas doenças autoimune, o câncer, a depressão, ansiedade generalizada têm
ligação com a culpa e com os padrões de inflexibilidade e intolerância
psicológica individual e coletiva, sob a forma de intransigência.
Podemos dizer que a
culpa é um processo de auto-obsessão, podendo ser considerada um monoideísmo ou
fixação mental. É verdade que nem sempre a culpa é acompanhada de quadros
obsessivos, principalmente aqueles que ressignificam a culpa e se perdoam.
Os que se situam em
padrões de prepotência e desejos de onipotência , os donos da verdade, os rígidos
e intransigentes, que não admitem os erros e fracassos acabam mergulhados nas
culpas, sendo alvos preferidos dos obsessores, que nem sempre são os credores
do passado, mas estão sintonizados e se adaptam com as pessoas rígidas.
A culpa, a rigidez
consigo e a mágoa como fixações mentais se expressam pela ausência do
autoperdão e do perdão ao outro. Comumente a autopunição ou autoflagelo e a
vingança acompanham estas fixações mentais e suscitam estados ansiosos e
depressivos, assim como desarranjos nas estruturas celulares que são determinantes
para múltiplas patologias orgânicas.
Portanto torna-se
emergencial o trabalho constante e diuturno do autoacolhimento amoroso, da
autoaceitação, da autoconfiança, da autovalorização e do autorrespeito do
autoperdão, para o restabelecimento do sistema homeostático do corpo, da mente
e da consciência.
Acreditamos que as outras
pessoas são extensões de nós mesmos, em face disso ativamos o mecanismo de
projeção psicológica atirando no outro nossas sombras egoicas. Quando começamos
a nos autoconhecer, nos identificando com as virtudes que somos em latência,
partimos para a ressignificação do ego, que é a tentativa de compreender nossas
atitudes, assim como das demais criaturas.
A ressignificação é a
abertura das janelas do autoperdão e do perdão ao outro que diluem as mágoas e
as culpas conscienciais.
Numa perspectiva
profunda de saúde, ou seja, a que leva em conta as questões espirituais,
psíquicas, emocionais e físicas, a fibromialgia, por exemplo, está relacionada a processos nos quais há um
bombardeio psíquico das células do corpo devido a processos como a auto rejeição,
a inquietude, a impaciência, a raiva, a mágoa, o desgosto dentre outras citadas
acima.
O gatilho da
auto rejeição é puxado todas as vezes que alguém rejeita a pessoa austera. É como se, em algum nível, ainda estivessem tendo a mesma
reação acriançada de achar que não tem valor quando alguém demonstra ter ficado
insatisfeito com ela. Tal acontece quando a
pessoa, por situações específicas pelas quais todos passamos, tais como perdas,
conflitos intrapessoais (consigo mesmo) conflitos interpessoais (com as outras
pessoas), equívocos que geram culpa, que ela não aceita, resultando em um
processo de rejeição de si mesma e de outras pessoas. Isso gera no psiquismo
uma rejeição que é projetada no próprio corpo, que responde com as dores.
A inquietude é
resultante da ansiedade produzida pela tentativa de controlar as questões
externas, que dizem respeito a ações de outras pessoas que o inquieto não tem
como intervir, mas mesmo assim deseja controlar, resultando em um estado de
tensão que também afeta o corpo físico.
Os Sentimentos como
raiva, irritação, mágoa também geram bombardeios mentais muito intensos sobre
as células do corpo, fazendo com que fiquem como se estivessem inflamadas,
resultando em dores como no caso da síndrome da fibromialgia.
Para que haja a
libertação dessas doenças da rigidez, é fundamental saber que o nosso corpo é
bastante sensível ao nosso estado mental. Por isso, numa visão mais profunda
das patologias e nas abordagens abrangente
da Medicina, recomenda-se o exercício das virtudes da serenidade, da
calma, da paciência, da tolerância, da aceitação das coisas que não podemos
mudar, da autoaceitação, do autoperdão, dentre outras, como terapêutica eficaz
para que a nossa mente se aquiete e se pacifique.
Isso irá gerar em vez
do bombardeio mental, uma energia mental salutar que produzirá um bem-estar às
células, que responderão com suavidade e libertação da dor pela reversão das
doenças.